O Reino Invertido

Por Roberto Montenegro •  Atualizado: 02/11/19 •  4 min de leitura

No Sermão do Monte, Jesus mostra, de forma expressiva, que o reino de Deus é um reino de ponta-cabeça. A pirâmide está voltada. Bendito é  aquele que nada exibe diante de Deus e ainda se quebranta pelos seus pecados. Bendito é aquele que abre mão dos seus direitos em vez de humilhar o fraco para exigir até direitos que não tem. Bendito é o que abre sua mão ao carente e não o que explora para enriquecer-se. Bendito é o que constrói pontes de conexão entre as pessoas e não aquele que cava ribanceiras de inimizades entre as pessoas. Bendito é o que ama e realiza a justiça. Bendito é aquele que procura ser santo e não aquele que rasga a cara em estrondosas gargalhadas cheias de luxúria. No reino de Deus ser perseguido por causa da justiça é melhor do que fazer injustiça e viver de aparência para a sociedade.

A ética do reino não cede às exigências da Lei para render-se à libertinagem sem freios. Se, nos reinos do mundo, o forte sobressai diante o fraco e o poder da vingança vence até os inocentes, no reino de Deus, o perdão é maior do que a vingança e a procura da reconciliação é melhor do que a vitória num tribunal. Nos reinos do mundo, os homens se contentam com as ações certas sob a investigação da lei; no reino de Deus, até mesmo as motivações do coração são consideradas. Detestar alguém é matá-lo no coração; olhar para uma mulher com intenção imprópria é adulterar com ela. Se os tribunais da Terra só podem julgar palavras e ações, no reino de Deus, o tribunal divino julga até mesmo as intenções.

Na moral do mundo, o casamento está cada vez mais deteriorado e o divórcio, cada vez mais atlético. No reino de Deus, divorciar-se, seja qual for o motivo, é entrar pelos corredores sombrios do adultério e destruir não apenas a própria vida, mas também a família. Na moral do mundo, o sexo tornou-se bobo e promíscuo. Toda sorte de deformidades sexuais é aplaudida e incentivada; mas, no reino de Deus, exige-se a pureza no coração e a fidelidade nas relações.

Na moral do mundo, a espiritualidade é uma fingimento na passarela da vaidade. Os homens são vangloriados por aquilo que parecem ser e não pelo que de fato são. No reino de Deus, a espiritualidade genuína não procura holofotes nem aplauso dos homens, porque busca unicamente agradar a Deus, que tudo vê em secreto e a todos reconhece. Nos reinos do mundo, os homens vivem ansiosos pelas coisas que aparentam, enquanto os filhos de Deus buscam em primeiro lugar o reino de Deus, que é eterno. No ética do mundo, os falsos profetas são tidos em alta conta e recebem dos homens todo prestígio e acolhimento. Mas, para os filhos do reino, eles são falsos ministros, que pregam um falso evangelho, produzindo falsos crentes.

Imagem de uma pessoa, sentada com perna de índio, em uma floresta. Ela abraça um espelho que cobre seu rosto.

Na ética do mundo, o que importa é aparência. Por isso a imprudência prevalece. Os homens ouvem a verdade, mas não a colocam em prática. Constroem sua casa sobre a areia, para vê-la desmoronar na chegada da tempestade. No reino de Deus não basta ouvir ou conhecer, é preciso praticar. Não basta construir sua casa, é preciso construí-la sobre a rocha. Não basta ter uma casa segura aos olhos dos homens, é preciso que essa casa permaneça inabalável diante das tempestades da vida.

Então, todos os reinos deste mundo passarão, mas o reino de Cristo, mesmo sendo agora um reino de ponta-cabeça, jamais findará.

Roberto Montenegro