Cristo em nós, a esperança da glória

Em que consiste a esperança cristã? Numa passagem, tão simples quanto cheia de significado, o apóstolo Paulo diz: “Cristo em vós, esperança da glória” (Colossenses 1,27).

A presença de Cristo na vida de cada cristão é o mistério pleno e total que Deus quis revelar e esta é a fonte e o objeto da esperança.

Em outras palavras, na origem da esperança cristã está um ato pleno e total do amor de Deus. Consiste no chamado à salvação por meio da participação Dele em sua própria vida.

A esperança, portanto, na perspectiva cristã, não se pretende primordialmente como um desejo que se abre apenas para o futuro, fruto da consciência que sempre tende a ir além de si mesma na expectativa de uma realização.

Pelo contrário, é entendida como um apelo que parte da revelação de Deus. É aqui que se percebe a novidade da nossa concepção e se faz o discernimento sobre todas as outras formas de esperança que pertencem à humanidade como seu esforço particular de luta.

Na medida em que a riqueza da nossa fé seja recebida e valorizada, poderemos dar um passo em frente e, portanto, no aprofundamento da fé, na oração e no testemunho.

A esperança em Cristo

A esperança cristã não surge apenas no momento de necessidade, sofrimento ou desespero.

Se fosse esse o caso, não seria de forma alguma diferente do sentimento ou desejo de se apegar a algo como uma solução.

A esperança cristã, ao contrário, tem a fé e a caridade como companheiros de viagem que nunca a abandonam.

Surge da fé e se nutre do amor. Sem esta ideia não seria possível compreender a esperança cristã que vive na certeza e não na decepção.

A teologia de Paulo é extremamente clara neste ponto. Nos momentos cruciais em que o apóstolo se propõe a descrever a existência cristã, ele sempre reúne a tríade fé, esperança e caridade.

Basta uma referência aos três textos nos quais este ensinamento retorna explicitamente:

“Conscientes diante de Deus e nosso Pai do vosso compromisso na fé, do vosso trabalho na caridade e da vossa paciência na esperança em nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tes 1, 3).

“Vista a couraça da fé e da caridade, tendo como suporte a esperança da salvação” (1 Tes 5,8).

“Estas, então, são as três coisas que permanecem: fé, esperança e caridade; mas o maior de todos é o amor “(1 Cor 13:13).

A esperança em Cristo não decepciona

Sendo a certeza do cumprimento da promessa de Deus, a esperança cristã não decepciona, porque tem as suas raízes no amor (Rm 5, 5).

E nunca pode ser separada do amor:

“Quem, então, nos separará do amor de Cristo? Talvez a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? Mas em todas essas coisas somos mais que vencedores em virtude daquele que nos amou. Na verdade, estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura será capaz de nos separar do amor de Deus em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rom 8,35-39).

Um olhar mais atento a este texto nos permitirá entender melhor as características da esperança cristã que Paulo descreve, apesar do fato de que o termo não aparece explicitamente.

Alguns versículos antes, o apóstolo havia dito que, para aqueles que vivem de fé e esperança, a condição de sofrimento do presente, apesar de todas as tribulações e maldades, não é comparável à glória que lhes será concedida.

Esta glória nada mais é do que a revelação do Filho de Deus, o conhecimento da sua face ou, se preferir, a revelação do mistério numa contemplação sem fim.

O futuro que espera quem espera e acredita hoje não só compensará o presente, mas, sobretudo, o levará à felicidade.

A esperança em Cristo e a salvação

Surge a pergunta que ainda acompanha muitos de nós hoje: quem pode garantir tudo isso? Quem poderá garantir o cumprimento desta expectativa e a satisfação desta esperança? Em resposta, o apóstolo introduz o conceito de liberdade.

Tanto a criação quanto o homem aguardam a libertação da “escravidão” (Rm 8,21).

Também os cristãos, que já estão salvos na morte de Cristo, esperam igualmente a plenitude da sua salvação.

A presença do Espírito de Cristo em nós, então, apenas confirma essa perspectiva. Visto que nem mesmo sabemos o que é importante pedir por nossa realização, o Espírito vem em auxílio de nossa fraqueza.

Há, portanto, uma dupla garantia para a certeza da nossa esperança, aquela subjetiva, que é o “sentimento” de cada um que tende à realização; e a objetiva, a presença do Espírito que dá força na espera.

O amor de Deus

Esperança

Paulo repete a mesma pergunta que, implicitamente, foi feita anteriormente: quem dá garantia de nossa esperança e vitória sobre o sofrimento do presente?

Quem ou o que garante ao cristão que o sofrimento presente não será definitivo e deve esperar a glória que lhe será dada?

A resposta é tão clara que não dá margem a mal-entendidos: o amor de Deus por nós é o fundamento, a garantia e o sustentáculo da nossa esperança.

É o seu amor que nos mantém firmes e intimamente ligados a ele. É em virtude do amor que tudo o que causa sofrimento é superado.

E Paulo tem o direito de falar dessa forma, mesmo identificando as experiências de sofrimento que ouvimos.

“Cinco vezes recebi os trinta e nove golpes dos judeus; três vezes fui espancado com varas, uma vez apedrejado, três vezes naufragado, passei uma noite e um dia à mercê das ondas. Inúmeras viagens, perigos de rios, perigos de bandidos, perigos de meus conterrâneos, perigos de pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos de falsos irmãos; cansaço e trabalho, vigílias incontáveis, fome e sede, jejum frequente, frio e nudez ” (2 Cor 11,23-27).

Sobre todos esses sofrimentos, não há apenas vitória, mas “triunfo”. Não importa quão fortes e poderosas sejam as forças do mal, o apóstolo – e com ele todo crente – vive com a certeza incontestável de que nada pode derrubar a esperança da fé.


A revelação do Senhor

O ato de esperança cristã, portanto, se condensa em alguns elementos que o explicitam e o definem.

A expectativa, antes de tudo, da revelação plena e definitiva do Senhor. A confiança em sua promessa de estar e onde ele está, aí também podemos estar.

A paciência, também, que não cede ao desânimo e sabe suportar o sofrimento. E, enfim, a liberdade de agir com e no Espírito que nos permite caminhar, antecipando a libertação.

A esperança em Cristo e a paz de espírito

O que sustenta e promove a “paz de espírito” é elencado pelo apóstolo Paulo. Em primeiro lugar, coloca a unidade da Igreja de que Cristo é a cabeça e que é sustentada pelo Espírito Santo.

Esta unidade é o fundamento da única esperança que os fiéis são chamados a viver e a testemunhar como sua vocação.

A unidade e a singularidade da esperança pertencem à unidade da Igreja, têm o mesmo fundamento e não podem ser fragmentadas.

A dimensão comunitária da esperança é também o que permite afirmar que o crente espera por todos e pela salvação de todos.

Não é retórica afirmar que nosso contemporâneo vive uma situação paradoxal e em muitos aspectos contraditória em relação à esperança.

Por um lado, tendo caído na armadilha da eficiência, ele apenas persegue o imediato, sem ter planos para o futuro.

Por outro lado, se logo que consegue erguer os olhos para ver além da eficiência, descobre que tem uma sede imensa de esperança.

O surgimento de novos profetas que, na Igreja e em nome da Igreja, anunciam um renovado êxodo e entusiasmo pela terra prometida envolve também a esperança.

Isaías, Jeremias e Ezequiel se levantarão para dar esperança a um povo em plena crise de fé. Essa, analogicamente, é a mesma condição que o cristão vive no mundo contemporâneo.

A profissão de fé

Não te esqueças que a esperança hoje, para muitos que não acreditam, pode ser o novo nome da fé e, em todo o caso, a verdadeira esperança nada mais é do que um caminho para a profissão de fé.

A vida é uma busca contínua por Deus.

Aqui está o desafio do nosso tempo e, ao mesmo tempo, a oferta de mediação para poder continuar a comunicar e a anunciar o Evangelho.

As palavras do Apocalipse vêm à mente: “Eu estou à porta e bato”. Na coragem de abrir aquela porta e cruzar a soleira está o sentido de uma vida inteira e de uma missão celestial que, nos vários ministérios, torna-nos todos responsáveis pela salvação deste mundo.

É apenas pela fé, pela esperança e pelo amor em Cristo que existe a salvação. Dessa forma, devemos nos desapegar do imediatismo do mundo e crer na plena palavra de Deus para nos libertarmos da escuridão.


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